Como investir: aprenda a evitar os vícios comportamentais

Saber como investir bem os recursos disponíveis é sempre um desafio – até para os mais experientes. Isso porque trabalhar bem o dinheiro envolve muitas variáveis, inclusive variáveis emocionais, que estão na cabeça de cada pessoa. Estudiosos do comportamento humano detectaram alguns vícios comportamentais no processo de administração dos investimentos. Por isso, é importante saber quais são eles para poder evitá-los.

O artigo de hoje traz orientações valiosas a respeito de como investir seu dinheiro. Desta vez, não vou focar na escolha dos melhores produtos, mas no controle da sua mente e emoções, para que você possa tomar decisões inteligentes. São orientações originadas em uma ciência bastante abrangente: a psicologia econômica.

O que é a psicologia econômica

Investir é uma atividade humana que possui uma série de peculiaridades. Quem aplica deve lidar com as próprias virtudes e fraquezas e com a construção de objetivos e sonhos. Vai muito além da simples alocação de dinheiro em ativos estratégicos.

Os componentes mentais e emocionais envolvidos nas relações financeiras têm sido explorados pela psicologia econômica desde o século XIX. Naquela época, alguns pensadores europeus buscavam ampliar as reflexões a respeito da economia, pois as movimentações de capital eram aparentemente mais complexas do que muitos supunham ser.

Ao longo do século XX, a psicologia econômica conquistou mais espaço e os estudiosos passaram a tratar também de questões sobre a lógica do consumo. E, como não poderia deixar de ser, atualmente, os estudos dessa área do conhecimento continuam em pleno desenvolvimento. 

Entre novas abordagens, houve um foco maior sobre o comportamento dos investidores e sobre como as pessoas lidam com essa atividade. Os vícios comportamentais fazem parte desse grande escopo. A seguir, vou mostrar quais são alguns deles, para que você possa evitá-los (ou superá-los) e manter a consistência em suas aplicações.

1° vício comportamental: excesso de otimismo

O otimismo é visto como uma atitude positiva em diversas esferas da vida pessoal e profissional. Dentro de uma estratégia de investimentos, ele também pode ser benéfico, desde que bem administrado.

Há que se fazer uma reflexão importante sobre o otimismo nos investimentos. Ninguém decide alocar seus recursos em um produto financeiro se não tiver confiança nos resultados que obterá futuramente. O ato de investir é, portanto, um exercício de otimismo. Mas o problema começa quando ele se torna exagerado e prejudica as decisões.

A psicologia econômica explica o excesso de otimismo como uma reação do nosso cérebro. Temos propensão a nos atentar mais para eventos positivos do que negativos na relação com investimentos.

Como o excesso de otimismo nos afeta

Quando o otimismo passa da conta, os resultados dos investimentos podem despencar. Essa armadilha mental pode se dar em diferentes situações.

Exemplo n° 1: se uma ação ou fundo de renda variável apresenta um histórico de flutuações com muitas altas e baixas, nossa tendência é menosprezar as quedas. Como resultado, apostas excessivamente otimistas nessa categoria de investimento podem levar à perda de dinheiro.

Exemplo n° 2: imagine que um amigo ficou rico por ter comprado um terreno que teve uma supervalorização. Pela lógica, você ficará predisposto a buscar um terreno em condições similares. O problema é que o excesso de otimismo, nesse caso, desconsidera fatores que podem comprometer o retorno financeiro.

 2° vício comportamental: excesso de confiança

Muita gente, de forma equivocada, confunde otimismo com confiança. São conceitos diferentes, inclusive quando o assunto é investimento. O excesso de confiança na relação com o mercado financeiro leva muitas pessoas a darem um passo maior do que podem sustentar. O resultado é um doloroso tombo. Mas, como o excesso de confiança aparece nos investimentos?

Quem tem menos vivência de mercados pode se empolgar com a leitura de artigos de especialistas. O rico conhecimento obtido nos textos cria a ilusão de que a pessoa está pronta para encarar o mercado. Acontece que nem tudo é tão simples assim. Não basta ler alguns artigos e fazer um pequeno curso de finanças para formar o próximo Warren Buffett. 

O desafio de superar a média do mercado em renda variável é bastante complexo. É preciso muito estudo e uma dedicação contínua para fazer análises inteligentes a respeito das movimentações.

Excesso de confiança e propensão ao risco

O perfil de investidor oferecido por corretoras e bancos de investimentos a seus clientes tem alguns objetivos. Um dos principais é detectar a propensão a lidar com o risco. Quando uma pessoa se vê contaminada pelo excesso de confiança, tende a cruzar uma linha perigosa. Assumir riscos de forma desmedida é uma atitude que pode levar à rápida perda de dinheiro no mercado financeiro.

E existe um problema adicional nesse ponto. Mesmo quando boa parte das transações se mostram acertadas, os ganhos nem sempre são substanciais. Isso porque o excesso de compras e vendas de papéis gera custos e taxas que limitam o retorno.

3° vício comportamental: paralisia nas decisões

Você já sabe que o excesso de otimismo e de confiança são prejudiciais a seus investimentos. Porém, o comportamento oposto também compromete os resultados das aplicações. Trata-se do terceiro vício comportamental: a paralisia nas decisões, que leva a carteira de investidores descuidados à estagnação. A atitude de engessar os investimentos pode ser fruto da insegurança em rebalancear a carteira. Há pessoas que ficam muito presas a uma orientação que talvez não tenha a mesma força de outrora. 

Imagine que determinado produto foi a bola da vez no ano passado e lhe rendeu ganhos expressivos. Porém, seu desempenho esfriou com o passar do tempo e o ativo deixou de ser competitivo. Por que não rever a estratégia em uma situação como essa? A paralisia nas decisões, independentemente de sua causa, pode minar seus investimentos. Ela funciona também como termômetro para seu otimismo e confiança, que devem existir na medida certa.

 Mantenha seus investimentos em constante evolução

Fugir dos três principais vícios comportamentais não é o bastante para manter uma forte carteira de ativos. Bons investidores se destacam pela inquietude e curiosidade com que encaram o mercado. Estão sempre em busca de novas oportunidades, ainda que sua carteira esteja apresentando resultados interessantes. 

Portanto, lembre-se de diversificar seus investimentos de acordo com seus objetivos e planos. Cada produto deve ter uma razão para figurar em sua carteira de aplicações. Uma escolha acertada não significa que você não precisa mais se dedicar a seus investimentos. Procure mantê-los em constante evolução, sempre com foco nos resultados e na construção de sonhos.

Percebeu como não existe uma fórmula mágica sobre como investir? Mas, adotar as atitudes corretas e evitar os vícios comportamentais colocará você no caminho certo. 

Por: Gustavo Cerbasi 

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