Não existe a felicidade como perenidade. A ideia da felicidade como um estado permanente é uma impossibilidade, à medida que uma boa parte dos nossos sentimentos positivos é vivenciada pela ausência.
O que valoriza e dá sentido a um sentimento é a ausência. Tivéssemos nós a felicidade como um estado contínuo, não a perceberíamos. Assim como o que valoriza a água fresca é a sede e o que valoriza a comida gostosa é o apetite. Um exemplo que dou sempre é que a água é absolutamente agradável quando o organismo precisa de hidratação, mas tomar dez copos para um exame de ultrassom é absolutamente desagradável. Um alcoólatra não tem prazer na bebida, ele tem dependência. Prazer na bebida se tem quando quem bebe fica um tempo sem fazê-lo.
Felicidade não é um estado contínuo, não pode e nem deve sê-lo. E nem seria possível, pois isso colocaria a pessoa próxima do estado de demência. Não se confunda felicidade com euforia. A euforia contínua é um distúrbio mental. Afinal de contas, estamos num mundo onde há atribulações, passos tortos, turbulências, problemas.
A euforia persistente é um estado de alienação. Daí ela se caracterizaria muito mais como uma doença do que uma expressão da felicidade, que é uma vibração intensa de uma sensação, mesmo que momentânea, em que se tem uma plenitude e um prazer imenso em estar vivo. Naquele instante, naquele minuto, naquela circunstância, independentemente de quanto tempo dure, aquilo proporciona uma plenitude de vida, em que estar vivo é uma dádiva magnífica.
Se eu parto do princípio de que felicidade é uma circunstância e não um estado contínuo, surge o questionamento: É possível atingir a felicidade? Sim, várias vezes, em vários momentos e em várias situações. A felicidade é um horizonte, não é um estado que você atinge em repouso. Esta ideia é necessária para que não se imagine que você se prepara para a felicidade e ela virá, em algum momento anunciada por um tempo de vida, em que você cria as condições e aí será feliz. Não. A felicidade é uma ocorrência eventual.
É claro que é possível fazer escolhas e preparar-se para atingir objetivos. Mas muita gente alimenta o ideal de “um dia eu vou ser feliz”. Não. A felicidade não é um lugar aonde se chega depois de um tempo. Cabe a cada indivíduo ir construindo no cotidiano as circunstâncias para que a felicidade venha à tona.
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**Trecho retirado do livro "Felicidade Foi-se Embora?"
Por: Mario Sergio Cortella
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